Quem nunca tomou um remédio sem prescrição após uma dor de cabeça ou febre? Ou pediu opinião a um amigo sobre qual medicamento ingerir em determinadas ocasiões? A automedicação, muitas vezes vista como uma solução para o alívio imediato de alguns sintomas, pode trazer consequências mais graves do que se imagina.

O uso de medicamentos de forma incorreta pode acarretar o agravamento de uma doença, uma vez que a utilização inadequada pode esconder determinados sintomas.

Outra preocupação em relação ao uso do remédio refere-se à combinação inadequada. Neste caso, o uso de um medicamento pode anular ou potencializar o efeito do outro.

O uso de remédios de maneira incorreta ou irracional pode trazer, ainda, consequências como: reações alérgicas, dependência e até a morte.

Muita gente tem uma farmácia particular de remédios sem tarja (ou de plantas medicinais) para lidar com contratempos como dor de cabeça, coriza e resfriado. Mas a automedicação começa a se tornar um problema sério quando vira rotina.

Hora de saber mais sobre a vida secreta das drogas auto prescritas mais populares do Brasil:

Paracetamol

Para adultos, a partir de 4 gramas por dia ou 1 g de uma vez só, aumenta o risco de lesões irreversíveis e falência do fígado. As crianças são ainda mais vulneráveis.

Dipirona, mucato de isometepteno e cafeína

Não precisa nem exagerar no consumo para se expor a dois efeitos colaterais raros, mas potencialmente fatais da dipirona. Um é a diminuição da quantidade de células do sangue, como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.

Outro, especialmente em asmáticos, é o choque anafilático, reação alérgica grave que pode acontecer mesmo em quem está acostumado a usar a medicação.

Ácido acetilsalicílico (aspirina)

A overdose costuma acontecer de forma acidental, principalmente com idosos, que usam doses maiores do remédio, e crianças pequenas. Oito comprimidos são suficientes para aumentar o risco de excesso de acidez no sangue e baixa acentuada de glicose, causando choque cardiovascular e insuficiência respiratória — distúrbios que podem levar à morte.

Sal de fruta (bicarbonato de sódio, carbonato de sódio e ácido cítrico)

Cada envelope de sal de frutas tem 0,85 grama de sódio. Se você tomar dois durante o dia, chegará a 1,7 g, bem próximo da recomendação máxima diária de 2 g. Some isso ao resto do sódio que você pode ter consumido na forma de refrigerante, coxinha e pizza, e você tem uma bomba, principalmente para quem tem pressão alta ou problemas do coração.

 

Cloridrato de nafazolina

Os sprays de água e cloreto de sódio usados como descongestionantes nasais não têm contraindicação a não ser para quem é sensível aos componentes ou para hipertensos que usam as formulações com concentração maior de sal, de 3%. O benzalcônio pode causar alergia. A nafazolina tende a induzir tolerância, efeito rebote e dependência psicológica.

É que, poucas horas depois da aplicação, o edema volta e é preciso repetir a dose. Com o tempo, o corpo acostuma e pede uma quantidade maior para entregar o mesmo efeito. Aí acontece a rinite medicamentosa, causada pela droga. Você nunca sara e ainda passa a acreditar que só vai conseguir respirar com a medicação. Provavelmente, a essa altura já estará devorando nafazolina pelo nariz, o que pode aumentar a pressão sanguínea e trazer problemas para o coração.

Antibióticos

Sem eles, infecção seria praticamente um sinônimo de morte. Mas, na guerra que travamos todos os dias contra as bactérias, a seleção natural não trabalha a nosso favor. É que bactérias competem por alimento contra outras bactérias. Quando o antibiótico entra, ele nem sempre consegue matar todas. Sobram justamente aquelas que, por algum acaso genético, já tinham nascido mais resistentes. Essas sobreviventes tendem a crescer e se multiplicar depois da passagem do remédio, pois não terão a concorrência de outras . É assim que os antibióticos criam superbactérias. Isso não acontece toda vez que alguém toma o medicamento, porque bactérias hiper-resistentes não surgem o tempo todo.

Mesmo assim, elas nunca deixarão de surgir: graças a mutações genéticas aleatórias, sina de todo ser vivo, sempre haverá alguma nova superbactéria resistente a qualquer super antibiótico que venha a ser criado.

A nossa displicência é outra grande amiga das superbactérias. É que os antibióticos levam no mínimo cinco dias para reduzir a população de invasores. Mesmo que você se sinta incrível já na terceira dose, lá dentro a batalha pode estar só no começo. Se você parar nesse momento, terá matado só as bactérias mais fracas. As mais resistentes a antibióticos (ainda que nem sejam assim super-resistentes) terão caminho livre para se reproduzir à vontade. E sua infecção tenderá a voltar com mais força.