Estudo comparou textos de pacientes no fim da vida a textos de voluntários e descobriu que quem está nos últimos dias é mais otimista.

A morte é a única certeza da vida. Ela dá um sentido de urgência que nos impele a sair da cama, a abrir as cortinas e a aproveitar nossa breve existência. Apesar dessa certeza, morrer segue sendo um tabu na sociedade ocidental. Os últimos momentos são imaginados como instantes de dor, solidão e insatisfação. Mas será que as pessoas no fim da vida de fato vivem isso antes de morrer?

Esta era uma das dúvidas do psicólogo norte-americano Kurt Gray, professor da Universidade da Carolina do Norte e PhD em psicologia social pela Universidade de Harvard. Para descobrir a resposta, ele investigou textos dos últimos três meses de vida de pacientes com câncer e esclerose lateral amiotrófica e os comparou aos textos e palavras finais de pessoas saudáveis que deveriam se imaginar à beira da morte.

“A morte hoje é mais assustadora porque quase nunca a vemos. Na Idade Média, você via as pessoas morrendo ao seu redor, era uma coisa comum no dia a dia. Hoje, no entanto, ela fica escondida em hospitais”

Nossa postura de fuga evidencia um paradoxo. A morte nos motiva a viver, já que estabelece uma urgência em nossa curta existência. Mas, ao mesmo tempo, é varrida para debaixo do tapete, visto que ninguém quer pensar no seu fim todos os dias. Falecer é algo negativo, cristalizado na figura de capuz com manto negro e foice.

“A gente evita falar sobre o assunto. É interessante como as pessoas ficam ávidas pela morte violenta, que sai nos jornais, mas viram a cara para a morte anunciada, crônica. A morte violenta é enxergada como algo longe da realidade, enquanto que a morte por doença, não”, opina Dalva Yukie Matsumoto, oncologista fundadora do setor de cuidados paliativos do Hospital Servidor Público Municipal, que mantém em São Paulo dez leitos para pacientes no fim da vida.

“A morte sempre foi temida. Quando não tínhamos tecnologia para combatê-la, a morte era vista como natural, mesmo que com fatalismo. Hoje, com melhores tratamentos, temos mais otimismo para combatê-la, mas também a negamos, como se pudéssemos adiá-la eternamente”.